quarta-feira, 6 de maio de 2009

TV e Você, Tudo a Ver. Nada a Dizer...

IMAGENS
No intervalo entre o futebol regional e o Brasileirão, a TV se depara com um vazio de assunto e imagens, que às vezes aparecem tão vazias que se quer podemos chamar de notícias: entretenimento ruim apenas.

Essa semana houve dois alvos: os operários pendurados no andaime, surrados pela tempestade e, os garotos flagrados vendendo combustível a céu aberto.

A imagem da louca aventura dos operários revelava, lá: meninos apavorados – porque na iminência da morte todos nos amadurecemos e ao mesmo tempo nos mininizamos. Mas o que a imagem não revela, mas a sua análise sim, é o cá fora:

- pula, pula!
- mas não é incêndio.
Mas no fundo, se houve esse diálogo imaginário, isso ainda não importa, a MORTE HUMANA SEMPRE DEU ESPETÁCULO E DINHEIRO, para quem sabe promover esse espetáculo.

Temos que trocar de rosto aquela antiga MÁSCARA DE VAMPIRO do DONO DE FUNERÁRIA. Aqueles que fazem jornalismo explorando o espetáculo da miséria humana há muito a estão merecendo.

O que mais me entristece (mas não me espanta.) é que décadas se passam e uma síntese do pensador Darcy Ribeiro se faz ainda válida: O Brasil nunca desenvolveu tecnologia porque aqui o sangue humano sempre foi muito barato (In Pasant).





IMAGENS — reloaded

Ainda, nesta semana sem “O fenômeno”, o principal ator global, outra imagem repetida à exaustão em seus jornais foi a do flagrante nos “marreteiros de combustível” de Guarulhos.

Quando vi as imagens gritei: caracas! É lá no Jardim Santo Afonso. O bairro onde cresci. Os meninos que lá aparecem correndo são todos conhecidos. Por isso não poderia deixar de postar algo sobre essas noticias. Até porque gritei caracas. Se fosse Brasília gritaria outra coisa e não escreveria nada - não vale o teclado.
Peguei o telefone e liguei lá pros meus conterrâneos:

— E ai Amaral, belê?

— Pedro das Pedras: “nenhuma pedra me atinge”. (risos...)

(é apenas um episódio em que fui apedrejado quando criança. Veados. Tenho impressão de que foi porque eu era gordinho e CDF).

— eu mesmo.

— viu só irmão, tô famoso.
— posso fazer uma entrevista contigo, é para a internet? Não vai nome nem nada que possa prejudica-lo.

(vai sim. Veado. Quem mandou me zuar com o lance das pedras! F.... seu f.d.p.)

— confiança pura, tem erro não!

(desse lado da linha: risos contidos)

— há quanto tempo você trabalha com esse negócio de venda de combustível ilegal?

— oito anos. No começo era puxar com a mangueira, aspirar gasosa, cuspir e encher a lata. E tossir pra porra.

— fazia mal?
— dois meninos morreram lá na atividade. Dizem que foi gasosa. Mas eu não acredito não. Eu por exemplo... vai encarar (risos)

— não apanho mais de você não, agora eu corro (risos).

(a vai dar pra quem tem tempo... pensei um tanto amedrontado)

— mas hoje eu só bebo álcool envelhecido 12 anos. Sou o dono lá da venda.

— me lembro que te vi com uma pick-up...

— com uma Bazer, mané.
(pensei outro palavrão... que trouxa meu, não larga do meu pé)
— você viu o que disseram na TV? O que você acha disso?

— preconceito, meu! Eu reciclo combustível. Usamos o que sobra no fundão dos caminhões meu. E compra que quer. Todo mundo sabe como é a gasosa daqui. No posto, paga caro e corre o risco de ser batizada. A TV mostra. Fecha o posto. Na próxima semana reabre. E dá-lhe da batizada. O cara que é levado amanhã ta soltinho de novo.

— quem compra sua gasolina?

— as firmas daqui, pra por nos carros de trabalho. O pessoal que tem um carrinho veio pra dar um role no fim-de-semana. Os moleques que tem carro e moto “cabrito” (tem um chassis legítimo e o resto da peças são compradas no desmanche. Geralmente, fruto de furto e roubo).

— Obrigado. Passo ai pra tomar um 12 anos, valeu.

— abraço irmão. Ah! É verdade?

— o quê?

— nenhuma pedra te atinge.? (ri histericamente e desliga).

vai se fuder, analfabeto do carai! Cusão!


Nota: conheci Amaral (aliás este nome é fictício. Mas a ficção para por aqui) quando ele levava Danete pra vender na escola. Todo mundo comprava porque era baratinho.Inclusive eu. Minha mãe ficou sabendo e não me deu o dinheiro para pagar o Danete que comi diariamente, durante um mês inteiro. Ele não entendeu e me deu um coro. A princípio tentei enfrentá-lo, mas ele sabia capoeira. No tempo em que não era ensinada em escolinha.

Depois fiquei sabendo que o Danete era catado no Lixão da Ford. Era um tremendo lixão a céu aberto onde a Ford despejava seu lixo. Nós crianças éramos consumidores assíduos. Outras empresas se aproveitavam desse lixão ela jogavam também seu lixo.

Não sei se aquele Danete foi jogado lá pela Danone ou por algum revendedor. Para nós era caído do céu. E assim como o combustível pirata, chupado com mangueira, deve ter levado, também, muitos anjinhos ao céu.

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