terça-feira, 5 de maio de 2009

I – Tá Chorando ai, Jão?



AO ACORDAR...
o aroma de bom café me arrebatava do mundo dos antepassados. Mas o que definia a suavidade do repouso e não da queda livre ao hoje, foi a voz e o violão temperado de Dorival Caymmi: cantava João Valentão.
...

João Valentão

Composição: Dorival Caymmi
João Valentão é brigão
Pra dar bofetão
Não presta atenção e nem pensa na vida
A todos João intimida
Faz coisas que até Deus duvida
Mas tem seu momento na vida
É quando o sol vai quebrando
Lá pro fim do mundo pra noite chegar
É quando se ouve mais forte
O ronco das ondas na beira do mar
É quando o cansaço da lida da vida
Obriga João se sentar
É quando a morena se encolhe
Se chega pro lado querendo agradar
Se a noite é de lua
A vontade é contar mentira
É se espreguiçar
Deitar na areia da praia
Que acaba onde a vista não pode alcançar
E assim adormece esse homem
Que nunca precisa dormir pra sonhar
Porque não há sonho mais lindo do que sua terra.
...
Há muito desejo escrever algo sobre essa música. Pois quando a ouço me comovo até as lágrimas. O mais simples que posso dizer é que me sinto o próprio João Valentão. Sou paulista e não baiano. Sempre vivi na periferia da cidade e não no litoral. Mas as semelhanças, aqui, são mais importantes que as dessemelhanças. Isso porque João Valentão é uma forma de ser e sentir. É um traduzir-se no mundo.
Nascido pobre, onde as pragas botam os ovos (evoé Plínio Marcos!), disposto a não ficar ali naquele lugar; um sentimento de não pertencimento. Resta o romper, agora como norma. Para isso, os estudos tornaram-se a avenida principal. Mas rompidos os primeiros hímens, o sentimento de não pertencimento novamente se estabeleceu. De fato não me sentia pertencente à classe-média estudantil.
Fui percebendo que apenas me definiria como sujeito válido sendo esse eu que a princípio negava, mas que havia de resgatá-lo.
Iria romper o hímem novamente, só que desta vez, de fora pra dentro...
Hoje, com a ajuda da análise (auto-análise, principalmente), pude ver e optar por outras ações e trilhas... Mas ali, naquele momento, desarmado de soluções mais lógicas, rápidas e humanas:
era bater, socar e cuspir no chão, apesar da dor. Usar o próprio corpo como porrete; os próprios sentimentos como arma.
Ah! E não chorar.
Chorar chorava: quando ouvia João valentão!
É quando o cansaço da vida, da lida, obriga João se sentar...
E se até o Jão podia, por que eu não?

aproveite e ouça uma interpretação ontológica de Caymmi, por Betânia:





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